E depois das Perturbações Regulatórias do Processamento Sensorial?
EDIÇÃO Nº53 | ABRIL - MAIO - JUNHO | 2021
RESUMO
Introdução: As Perturbações Regulatórias do Processamento Sensorial (PRPS) constituem uma categoria diagnóstica desde o manual de classificação diagnóstica DC: 0-3:Diagnostic Classification of Mental Health and Developmental Disorders of Infancy and Early Childhood. Contudo, nunca foram incluídas no Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM), por se considerar que os dados existentes atualmente são insuficientes para as validar como uma entidade clínica distinta. Este estudo pretende compreender que possíveis diagnósticos têm estas crianças na segunda infância e adolescência e de que intervenções terapêuticas necessitam, tentando contribuir para o esclarecimento da questão sobre se as PRPS constituem uma condição pré-mórbida para o desenvolvimento de outras patologias, ou se este diagnóstico deveria ser considerado uma entidade nosológica distinta.
Objetivos: Caracterizar a amostra de crianças com diagnóstico de PRPS que recorreram a consulta de pedopsiquiatria na Unidade da Primeira Infância (UPI) entre 2008 e 2013; aferir o estado e seguimento médico, tratamento e diagnósticos de acordo com o DSM-5, 4 a 9 anos após a primeira consulta na UPI.
Metodologia: Estudo retrospetivo e de follow-up. Recorreu-se a consulta de processos clínicos e entrevista telefónica estruturada aos principais cuidadores, com aplicação da escala Strengths and Difficulties Questionnaire (SDQ).
Resultados: Cinquenta e cinco crianças obtiveram o diagnóstico de PRPS e 47 dos seus cuidadores responderam a entrevista. Nenhuma associação foi encontrada entre o subtipo de PRPS e diagnóstico atual inferido de acordo com o DSM-5 ou perceção dos pais sobre estado atual da criança. Foi encontrada associação significativa entre diagnóstico de PRPS e resultados anormais nas subescalas de Problemas de Hiperatividade e Comportamento do SDQ.
Discussão e Conclusão: A grande dispersão de diagnósticos encontrada permite colocar as hipóteses de que as PRPS deveriam ser consideradas como categoria diagnóstica independente ou de que as alterações do processamento sensorial poderão ser comuns a vários quadros psicopatológicos. Será importante realizar estudos prospetivos nas crianças com este diagnóstico para perceber se as PRPS poderão ser incluídas como categoria diagnóstica no DSM no futuro.
E depois das Perturbações Regulatórias do Processamento Sensorial? Que respostas tem o DSM-5?
Por Cláudia Gomes Cano, Leonor Sá Machado, Catarina Garcia Ribeiro, Sandra Pires, Mariana Farinha, Ana Moreira, Joana Macieira, Luísa Queiroga, Joana Mesquita Reis, Pedro Caldeira da Silva