October 25
Psicanálise Contemporânea
EDIÇÃO Nº28 | DEZEMBRO - JANEIRO | 2015
BREVE EXCERTO
”A psicanálise contemporânea tem como objecto de estudo a história real das relações do indivíduo com o seu meio humano, a história vivida e sentida dos relacionamentos do sujeito com o (os) seu (seus) objecto (objectos), i.e., da pessoa em causa com os seus parceiros (as outras pessoas das inter-relações); desde o início da vida à actualidade, dando especial relevo aos períodos de formação e consolidação da personalidade – infância e adolescência. História real, aqui, quer dizer tal como foi sentida pelo próprio, logo, verdadeira e realmente vivida; não a história “real” como observada e registada por um qualquer instrumento de análise e medição ou observador externo lúcido e neutro. É a história interna, subjectiva, construída pelo sentir, vivenciada ou experienciada, como a experiência do sentimento a viveu e registou na memória emocional, como a apreendeu na sua qualidade e ressonância afectiva (não como a representou mentalmente, a conheceu pelo pensamento, a aprendeu cognitivamente e registou na memória episódica – dos acontecimentos percebidos – e memória semântica – do conhecimento conceptual e significativo). Sublinhamos: é a história vivida; e não, a história acontecida. Esta diferença é essencial. Assim, em vez do cartesiano cogito, ergo sum (penso, logo existo), teremos: sinto, portanto sou. Não se trata de “existir” para o observador (seja ele o pensamento); mas de ser e estar sendo, sentir-se como realmente/sentidamente existente, vivo e com vida própria.
E isto não é um “mistério”, ficção ou efeito mágico; nem é “inconsciente”, implícito ou latente. Simplesmente é; porque se sente. É da ordem do sentir, da apreensão e apercepção (ainda não se percebe bem); é, se assim podemos dizer, pré-conhecimento; é, conhecimento emocional protopático (impreciso, grosseiro, informe) – não ainda diacrítico (preciso, conciso e discriminado).”
Psicanálise Contemporânea
de António Coimbra de Matos