January 26
Melancolia
EDIÇÃO Nº56 | JANEIRO - FEVEREIRO - MARÇO | 2022
BREVE EXCERTO
“O melancólico vive subjectivamente um delírio de culpa e inferioridade – julga-se, está mesmo convencido que é culpado e inferior. A sua doença é esta crença patológica; e patológica porque não corresponde à sua história factual de vida, à acontecência do seu comportamento, seja, ao desenrolar do seu agir social (pelo contrário, é um indivíduo dócil, submisso, obediente e bem comportado). Esta é a sua patogenia, isto é, a forma ou o processo como a causa do sofrimento/doença actua – uma convicção que não se apoia em factos/acontecimentos/comportamentos concretos, objectivos e reais; logo, uma crença, um mito, um delírio, em última análise. Não corresponde à realidade – é irreal –, nem à interpretação lógica – é uma culpa ilógica.
A sua causa – a etiologia – é a culpa induzida (incutida, injectada) pelo agente e/ou ambiente depressígenos; e induzida explícita ou implicitamente. É esta a culpa depressígena – ilógica e patológica; instilada pelo meio social envolvente. Uma culpa que impregna toda a anatomia e fisiologia da alma; sem o sujeito dar por ela (a culpa) – personalidade depressiva – ou tendo dela consciência – depressão. Mas uma culpa e inferioridade que tudo tinge de amargura e ineficiência, indecisão e dúvida, inércia e adiamento; que trava e emperra, castiga e não perdoa, dói e faz doer (sadomasoquismo).“
Melancolia
De António Coimbra de Matos