January 26

A Depressão

EDIÇÃO Nº56 | JANEIRO - FEVEREIRO - MARÇO | 2022

BREVE EXCERTO

“A depressão é a inexistência ou perda do normal (e natural) entusiasmo pela vida, diga-se, pela vida de relação com todas as coisas e todos os seres, especialmente os congéneres. Pode ser permanente, constituindo um traço de carácter – personalidade depressiva –, ou episódica, aparecendo como sintoma de descompensação do humor – estado depressivo. Quanto à sua intensidade, vai desde o sentimento de tédio ou aborrecimento até à total ausência de esperança e desejo de morte. Para o deprimido, a vida não é fonte de alegria e de prazer; pelo contrário, é um sofrimento, uma dor. O depressivo não vive, sobrevive.

De causalidade multifactorial, na sua génese encontramos: uma vulnerabilidade hereditária específica poligenética; condicionantes epigenéticos; factores do meio físico-químico e do ecossistema biológico; processo educativo e circunstâncias sócio-profissionais; valores, ideais e influências da cultura; muito particularmente, a distorção/perversão das relações afectivas. De facto, a depressão é, essencialmente, a reacção bio-psicológica à carência ou perda de amor e apreço/afecto e reconhecimento dos parceiros privilegiados de relação. Assim, o seu sintoma patognomónico é a baixa auto-estima; e o sinal mais evidente, a diminuição de iniciativa e inibição da acção. Donde, se pode afirmar não haver depressão sem sentimento de desvalia, desânimo e abatimento das funções psíquicas e somáticas.“ 

 

A Depressão 

De António Coimbra de Matos

January 26

Do Acting-out ao Enactment

EDIÇÃO Nº56 | JANEIRO - FEVEREIRO - MARÇO | 2022

 

BREVE EXCERTO

“Do acting-out (passagem ao acto) ao enactment (enacção ou encenação) vai um passo importante: da não reflexão à reflexão, do curto-circuito ao médio-longo circuito, do imediatismo ao mais ou menos ponderado. Um agir em arco reflexo (estímulo – resposta) ou impulsivo (estimulação interna) e um agir após tratamento implícito das informações. A diferença é esta: na enacção há uma elaboração – se bem que implícita ou inconsciente – dos informes; há, pois, intervenção, não só do córtex associativo como também e fundamentalmente do neo-cortex pré-frontal supra-orbitárion e da comunicação implícita com outro indivíduo – do que se convencionou chamar “cérebro social” e conhecimento relacional implícito.

Assim, enquanto no acting-out (passagem ao acto) está em efectivo uma causalidade ou etiologia ascendente (de baixo para cima) e centrípeta (da periferia para o centro), no enactment (encenação) a efectividade resulta de uma causalidade/etiologia descendente (de cima para baixo) e centrífuga (do centro – sujeito – para a periferia – objecto). O primeiro é da ordem primária; o segundo, já da ordem secundária. O acting-out diz respeito à unidade biológica – o indivíduo –; o enactement, à unidade psicológica – o par.“ 

 

Do Acting-out ao Enactment 

De António Coimbra de Matos

 

January 26

Homenagem ao Dr. José Barata

EDIÇÃO Nº56 | JANEIRO - FEVEREIRO - MARÇO | 2022

BREVE EXCERTO

“O Zé Barata foi um homem exemplar, um grande homem. Grande na compleição anímica: bom, generoso, corajoso – que soa melhor em inglês: good, giving, game. A generosidade e a coragem, ditando a preocupação e ocupação com a necessidade e bem-estar do outro – empatia e compaixão, dúplice virtude iátrica – e o respeito pela condição de existência e dignidade de vivência do congénere – a solicitude ou “concernência”, da qual nos fala Winnicott –, fizeram dele um psiquiatra e psicanalista de excelência; a firmeza de caracter e determinação da vontade, o modelo de cidadão, companheiro e amigo, que nos aquece a alma e tempera a acção.

Estamos aqui, todos nós, pelo espírito de comunhão que com ele exercitamos; vamos em frente pelo cúmplice desejo de construção de um mundo mais livre, solidário e criador – imperativo que, pelo exemplo dele, nos impusemos.

Com o Zé, de sobremão, vivemos a alegria, a força e a criatividade do nós, validamos a “nosteridade” (aquilo que os anglo-saxões designam por weness). Esquecê-lo seria abdicar da nossa própria humanidade.“ 

 

Homenagem ao Dr. José Barata 

De António Coimbra de Matos

 

January 26

Nova Relação

EDIÇÃO Nº56 | JANEIRO - FEVEREIRO - MARÇO | 2022

BREVE EXCERTO

“Se como variante da técnica hipnótica) usamos a disposição poltrona atrás do divã para evitar a troca de olhares e mímicas, não deixamos com isso – essa equívoca cautela – de influenciar o paciente. Antes, pelo contrário, adquirimos um maior poder de influência: ao ascendermos, com isso – essa posição do invisível –, ao lugar mágico - simbólico do tutor omnisciente e omnipotente (o suposto tudo saber e poder). Se a isso acrescentarmos a regressão induzida no paciente pelo decúbito dorsal, a possibilidade de o influenciar é máxima. Logo, a grande cautela que ao analista se impõe é a de respeitar a autodeterminação, liberdade e autonomia do analisando, seja, apenas o influenciar a querer saber e realizar quem desejava ter sido e deseja ser e vir a ser. Como assim: se o analista cuidar da liberdade do paciente, este cuidará de encontrar e desenvolver a sua verdade.

Sendo esta a finalidade primeira e última da psicanálise e desta feita exercida, o divã, então, aumenta a responsabilidade do psicanalista; e em duplo sentido: (1) maior peso das consequências da sua participação no processo de cura, e (2) maior exigência de qualidade na sua presença e agência.“ 

 

Nova Relação 

De António Coimbra de Matos

 

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